sexta-feira, 25 de setembro de 2015



Rex



Rex sempre fica embaixo de uma marquise estreita quando chove. Deitado sobre o piso nu, fica meio encharcado pelos respingos da chuva quando bate no chão. Mas ele fica ali, parado, em silêncio, com o olhar melancólico encoberto pelas longas mechas de pelo acinzentado.
Sua dona, uma velha doente de voz irritante, o xinga a todo momento da janela. Com gritos e palavrões, manda que saia dali, que vá para dentro da garagem se abrigar. Mas ele nem se mexe. Na verdade, Rex é xingado sempre, até em dias ensolarados sem nuvens. É xingado por nada, apenas por estar na sua, pois ele é super na dele... Talvez por isso sua dona o tome por maluco, como os garotos que nos conselhos de classe são criticados entre os professores por serem muito quietos. 
Às vezes Rex se empolga e sai de sua inércia. Foge pelo portão do quintal e sobe correndo até a frente da casa à procura da companhia dos donos. Mesmo assim é xingado. Sob berros, o mandam descer... Cabisbaixo, ele volta lentamente para o quintal, como se tivesse sido esmagado por uma pedra enorme... 
Talvez Rex não goste tanto assim de ficar na marquise estreita nos dias de chuva... Talvez preferisse  estar em um local sem respingos, como o interior seco da garagem. Só que lá fica Bela. Velha, pelo curto, patas traseiras arqueadas, olhos esbugalhados e braba como o diabo. Não tolera que transitem perto dela. O rapaz que aluga a peça ao lado da garagem pode atestar a índole de Bela quando, distraído, certa vez passou perto dela na garagem. Com seus olhos esbugalhados, avançou nele.
Ninguém entende as reservas de Rex. Nem quando estão comendo perto dele. Até estica um pouco o focinho, põe-se nas quatro e ensaia uma aproximação, mas é o máximo que faz... Logo recua com seu olhar humilde e volta para a marquise. Rex é capaz de reprimir seu mais poderoso instinto. Antes passar necessidades, do que acabarem com ele. 





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